Os sermões que levaram milhares de fiéis a uma profunda conversão

Nossos verdadeiros inimigos não são aqueles que mancham nossa reputação, que nos roubam nossos bens, que até atentam contra a nossa vida: esses são apenas instrumentos que a Providência utiliza para nos santificar, dando-nos a oportunidade de praticar a humildade, a mansidão, a caridade e a paciência.  Isso tudo não é o que chamamos de nossos inimigos; pelo contrário, é o que nos conduzirá ao céu, se o quisermos desfrutar de maneira cristã.

Por outro lado, somente podemos encontrar nossa felicidade na Terra amando a Deus, e somente podemos amá-lo rezando a Ele. Jesus Cristo, para nos encorajar a recorrermos frequentemente a Ele pela oração, promete-nos nunca nos recusar nada se lhe rezarmos como devemos. Mas, sem fazer grandes desvios para mostrar-vos que devemos rezar com frequência, basta abrirdes vosso catecismo, e vereis que o dever de um bom cristão é rezar de manhã e à noite, e muitas vezes durante o dia; isto é, sempre.

Meus amigos, acaso não amaríamos a um Deus que suspirou, desde toda a eternidade, pela nossa bem-aventurança? Um Deus... ah! um Deus que tanto nos chorou o pecado e que deu a vida para os apagar! Um Deus que houve por bem deixar os anjos do céu, onde o amam com um amor tão puro e perfeito, para vir a este mundo, sabendo muito bem como haveria de ser desprezado. Ele conhecia de antemão as profanações que far-lhe-iam nesse sacramento de amor. Sabia que uns o haveriam de receber sem contrição; outros, sem desejo de se emendarem; ai de mim! que outros ainda, talvez, com o crime ainda em seus corações, o fariam morrer. Mas não, nada disso lhe pôde deter o amor. Oh, que feliz nação a dos cristãos!...

Se me perguntardes, meus irmãos, por que há tão poucos cristãos que só agem unicamente para agradar a Deus, eis a razão pura: a maioria dos cristãos está enterrada na mais terrível ignorância, e tudo fazem humanamente. De modo que, se comparásseis suas intenções com as dos pagãos, não encontraríeis nenhuma diferença. Meu Deus! quantas boas obras perdidas para o céu! Outros, que têm um pouco mais de luz, buscam apenas a estima dos homens e tentam enganar-se o mais que podem; seu exterior parece bom, mas “seu interior está cheio de sujeira e duplicidade” (Mt 23, 27-28). 

Já não é um Salvador que vem com a mansidão de um cordeiro, para ser julgado pelos homens e para redimi-los: é um Juiz justamente irado, que julga os homens com todo o rigor da sua justiça. Já não é um Pastor caridoso que vem procurar suas ovelhas perdidas e perdoá-las: é um Deus vingador que vem separar para sempre os pecadores dos justos, subjugar os ímpios com a sua mais terrível vingança e sepultar os justos em uma torrente de doçura. Momento terrível, momento pavoroso, quando chegarás?

O ímpio, neste mundo, parece querer ignorar o poder de Deus, vendo os pecadores sem punição; chega mesmo a dizer que não, não, não existe Deus nem inferno; ou que Deus não dá atenção ao que acontece na Terra. Mas esperemos pelo julgamento, e nesse grande dia Deus manifestará seu poder e mostrará a todas as nações que viu e contou todas as coisas.

Ó meu Deus! Quão cego é o homem para perder tanto bem e atrair tanto mal permanecendo no pecado! Se eu perguntasse a uma criança: Por que o bom Deus te criou e te preservou até agora? Ela me responderia: Para conhecê-lo, amá-lo, servi-lo e, assim, obter a vida eterna. Mas, e se eu lhe dissesse: Por que os cristãos não fazem o que devem fazer para merecer o céu? É porque, ela me diria, perderam de vista os bens do céu e acreditam encontrar sua felicidade nas coisas criadas.