Confira abaixo uma valiosa reflexão de São João Maria Vianney.
Eis, meus irmãos, a imagem, ou melhor, a vida, de um pobre cristão na Terra. Nossa alma, sujeita a mil paixões, enfrentando mil tentações, é verdadeiramente como um barco coberto pelas ondas e em perigo de naufragar a qualquer momento.
Diante disso, meus irmãos, quem de nós poderá viver em paz vendo os perigos pelos quais estamos sujeitos a nos perdermos para sempre? Quem entre nós, meus irmãos, não sentirá a necessidade de vigiar constantemente todos os movimentos do seu coração, isto é, todos os seus pensamentos, suas palavrase suas ações, para saber se tudo é feito com o objetivo de agradar a Deus ouao mundo?
Mas ai!, meus irmãos, digamo-lo com um lamento: muitos, em tudo o que fazem, buscam apenas o mundo, e não o bom Deus. E o que se segue disso?
Nossos verdadeiros inimigos não são aqueles que mancham nossa reputação, que nos roubam nossos bens, que até atentam contra a nossa vida: esses são apenas instrumentos que a Providência utiliza para nos santificar, dando-nos a oportunidade de praticar a humildade, a mansidão, a caridade e a paciência.
Se nos empenhamos pela salvação da nossa alma, longe de odiá-los e deles nos queixarmos, pelo contrário, nós os amaremos mais. É verdade que é um pouco difícil para um cristão que uniu seu coração ao mundo ver-se despojado dos seus bens; é certo que é um pouco sensível para uma pessoa orgulhosa ver sua reputação manchada; não há dúvida de que é assustador, para quem vive quase como se nunca fosse morrer, sentir que a morte o rodeia.
No entanto, meus irmãos, isso tudo não é o que chamamos de nossos inimigos; pelo contrário, é o que nos conduzirá ao céu, se o quisermos desfrutar de maneira cristã. Mas, se desejais agora saber que inimigos devemos temer, ei-los aqui, meus irmãos: escutai com atenção e gravai-o bem no vosso coração.
Nossos verdadeiros inimigos são aqueles que trabalham para despojar nossa pobre alma da sua inocência, para roubar-lhe o tesouro da graça, para fazê-la morrer diante do bom Deus, para lançá-la no inferno.
Ah! meus irmãos, quão medonhos e terríveis são esses inimigos! E não são apenas perigosos, mas encontrados em toda parte, ou melhor, estão dentro de nós; o que nos deve levar a estarmos constantemente em guarda, pois somente a morte nos livrará deles para sempre. Ai! meus irmãos, não é em vão que se diz que “a vida do cristão é uma batalha contínua (Jó 7, 1)”.